quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Na mesa do bar

Eu que ainda mentia que já tinha te esquecido, te enxergava no fundo do copo a cada gole amargo de uma cerveja mais ou menos gelada.
Te substituir pelo álcool havia sido mais difícil do que parecia, mesmo em altas doses, no final de tudo para você era onde o meu pensamento voltava.
Escutando Los Hermanos, que cantavam baixinho em uma frequência de rádio que ninguém trocava, como tortura para meu coração partido, quando meu devaneio foi interrompido pelo som da sua risada, na hora eu perdi tudo, o chão, o foco e a habilidade de respirar, e mais forte que eu, virei para o lado e pude te olhar.
Você estava a umas quatros mesas de distância, e ainda assim consegui reconhecer a sua risada exagerada, que só aparecia depois de dois copos de cerveja.
Estava com aquela blusa azul que você se encantou naquela lojinha no fim da rua, mas que não tinha como comprar porque tinha gastado todo o dinheiro do mês com livros, e eu resolvi de dar, só pelo prazer de ver seus olhos brilhando e aquele sorriso sem jeito me dizendo: “você não precisava fazer isso”, eu nunca precisei, mas eu fiz.
No seu pulso brilhava aquele pingente de estrela que ganhou da sua mãe no seu vigésimo aniversário, pendurada naquela pulseira de macramê que compramos juntos na viagem da praia, olhei para o meu pulso e percebi que a minha ainda continuava lá também.
A saia branca que ficava linda, mas você não gostava de usar, porque com seu jeito desastrado sempre conseguia sujar, ela tinha ficado meses na minha última gaveta da cômoda, junto com outras peças, só para o caso de você precisar.
O cabelo solto, estava mais comprido do que eu lembrava, te deixando com uma aparência mais séria do que você realmente era.
Você estava ali, vestida do nosso passado, carregando todas as nossas lembranças, no nosso bar favorito, bebendo seu drinque predileto com as suas três melhores amigas. Essa cena cai tão bem, você se encaixa nessa vida de uma maneira tão exata, que eu sei que não tenho o direito de interromper, e antes que eu me convença de que preciso ir falar com você, já estou do outro lado da rua, pegando um táxi.

Quando você me ver saindo, pelo reflexo do vidro vou esperar para ver a sua reação, mas não vou esperar por você. 

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