Eu passei a tarde toda na frente
do meu maldito computador sem conseguir escrever um parágrafo sequer do bendito
livro que eu precisava entregar dali a sete semanas. E eu achava que ser escritora
seria fácil. Doce ilusão aquela.
Justo eu que não suportava ideia
de romances, de casais melosos e encontros marcados pelo destino tinha aceitado
escrever uma história sobre isso. Não tinha nem ideia por onde começar, como
seria o encontro deles e o que os manteria juntos, para mim toda essa coisa a
amar até que a morte os separe e essas frufruzizes todas eram bobagem coisa de
conto de fadas e filmes. Não era uma frígida também longe disso, tinha meus
casos, minhas paixonites e afins, mas nada que me levasse a crer em casamentos
e muito menos naquele amor arrebatador que nos enlouquece.
Sai de casa para passear pela
orla carioca, é ser escritora tinha seus benefícios, quando eu me saia bem, por
sorte os últimos livros tinham vendido e consegui comprar um apartamento de frente
para o mar (para você ver como pode render uma boa grana essa coisa de escrever).
Resolvi sentar na areia da praia
fingindo ver o mar, mas na verdade observar os casais que ali estavam para ver
se a inspiração aparecia.
- Quem diria heim Maria Clara,
você na praia- quase enfartei quem era a pessoa que ainda me chamava pelo nome
de batismo? Depois que mudei e usava o meu pseudomo para tudo nunca mais
havia sido chamada de Maria Clara, olhei devagar para cima, cobrindo meus olhos
com as mãos para matar a minha curiosidade.
- Antônio, você aqui, faz quanto
tempo que não te vejo, sei lá um vinte anos?- e para minha surpresa um ex-colega
do fundamental era quem estava ali.
-Isso mesmo guria, voltei lá do
sul há poucos meses, ainda estou me acostumando com o calor daqui.
-E porque voltou? Depois de tanto
tempo.
-Ah você sabe Clarinha, aqui é o
meu lar, acho que poderíamos tomar um suco invés de torrarmos embaixo desse
sol.
Concordei com ele me levantando e
o seguindo até o quiosque, como ele havia mudado o menino magrela de óculos que
tinha roubado meu primeiro beijo aos catorze anos agora estava um homem, de
barba, ainda com seus óculos quadrados, o qual lhe dava um ar de inteligência e
não mais de desajeitado, um ar calmo, e um sotaque do sul deveras charmoso, uma
risada calma e entusiasmada.
- Então virou escritora?- ri,
tomei um gole da minha limonada e respondi:
-Virei, e das boas- ele riu da
minha piada- e você como andas?
- Virei publicitário, mas me diga
casou?- meneie a cabeça em sinal negativo
-Ninguém se interessou- ele riu
novamente, aquela risada era contagiante que tive que rir junto.
- Melhor para mim- ele tomou um
gole do seu suco de laranja e piscou me fazendo corar.
A conversa durou a tarde toda,
com insinuações e flertes, risadas e um papo descontraído, até começar a
escurecer e eu me dar conta do tempo todo que passamos ali, rapidamente interrompi
a nossa conversa:
- Preciso ir, está tarde, tenho
um livro a escrever.
-Será que irei aparecer nessa sua
história?- ele brincou se levantando junto comigo.
-Talvez- ri junto com ele,
tirando algumas notas da carteira para pagar meu suco, quando a mão dele parou
sobre a minha, levantei meus olhos o olhando de baixo para cima e ele sorrindo
maliciosamente disse educado:
-Eu pago, o convite foi meu-
vendo que eu iria protestar ele continuou- insisto, por favor- dando de ombros,
o deixei pagar a conta.
Para a minha surpresa ele me
acompanhou até a entrada do meu prédio, na hora da despedida estendia mão para
um aperto cordial entre amigos, ele rindo disse:
-Clarinha, prefiro fazer como da
primeira vez- e antes mesmo de eu entender ao o que ele se referia, fui puxada
para um beijo que me deixou sem ar. - interrompendo o beijo ele sussurrou:
-Sei onde moras, que tal na quarta
saímos para jantar?- apenas concordei com a cabeça- Passo aqui as oito- ele me
deu um pequeno beijo na face, virou as costas e se foi.
Subi correndo, liguei meu
computador, me muni de café e um sanduíche e comecei a digitar:
“Ela cansada de ficar em casa resolveu caminhar pela praia, onde sem
nunca imaginar reencontrou seu primeiro amor da escola...”.
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