terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ensinamentos

Eu acordei muito atrasado, novamente o despertador não funcionou já eram 07h15min, ou seja, um banho rápido sem tempo do café da manhã e correr ao máximo para pegar o ônibus.
Ainda deu tempo de pegar um pedaço do bolo de aniversário da minha irmã caçula, que jazia na geladeira há algum tempo, sai às pressas até a parada de ônibus, cheguei em cima da hora, tive que correr atrás gritando para que o motorista me enxergasse e decidisse me deixar subir.
 Graças a Deus consegui um lugar no fundo do ônibus, sem muita gente por perto, poderia com muita sorte cochilar até o ponto onde descia para mais um dia exaustivo de trabalho, não reclamando, pois o dinheiro no final do mês era muito bem vindo. Com tantas contas para pagar e com o começo do ano escolar chegando, e  com duas irmãs indo para a escola, não tinha tantas escolhas, desde que meu pai decidiu que sumir pelo mundo sem aviso prévio era algo bom eu e minha mãe tínhamos ficado em uma situação deveras complicada.
- Posso sentar? – alguém interrompeu meus cálculos mensais sobre o pouco salário que recebia
- Como?- olhei para a moça, com mochila nas costas, fones de ouvido e um ar pouco simpático.
- “Tá” ocupado aqui?- pediu ela já sem um pingo de paciência
-Não, pode sentar, me aproximei mais da janela deixando mais espaço para aquela adolescente zangada ao meu lado.
- Valeu- ela se sentou sem muita cerimônia e recolocou seus fones sem muito animo.
- Indo para a escola? –tentei puxar uma conversa com a moça
- uhum. – respondeu sem muita animação.
Decidi que não iria mais tentar conversar com ela, ora por Deus adolescentes são tão instáveis e problemáticos, meninas então nem se fala, dramáticas e com certas tendências psicopatas em determinados períodos se é que me entendem. Não dei muita bola para a moça por um bom trajeto, mas logo percebi que ela havia começado a chorar baixinho, sem muita reação, e penalizado resolvi pedir o que havia ocorrido e ela respondeu entre soluços:
- Ele me deixou sabe, ele disse que me amava tanto e foi só aparecer uma menina mais bonita e arrumadinha que ele me deixou. E dói tanto me entende? – apenas meneie a cabeça em aprovação, crises amorosas são algo que não sou bom em lidar nunca dei sorte com as mulheres. – sabe o pior? Ele diz pra ela tudo que dizia pra mim sabe, ou seja, ele mentia pra mim como agora mente pra ela, ele não presta eu sei, mas eu amo ele sabe.
- Olha moça...
- Camila- ela me interrompeu se apresentando.
- Roberto- disse o meu nome já que ela havia dito o dela- entendo sim, na sua idade sofri muito por meninas e por mais que não me orgulhe até fiz algumas chorarem, mas se ele faz isso ele não merece alguém como você, linda, esperta.
Sem saber o que dizer ou fazer, abracei a pobre menina de coração partido e comecei a dizer frases que lemos em livros como ‘ isso passa’ ‘ele não te merece’ ‘não vale  a pena’ ‘você é muito nova’. Que pelo jeito funcionaram, ela se acalmou e disse:
-Obrigada, muito obrigada mesmo, você me salvou de me matar, mas eu desço aqui, obrigada mais uma vez.
Sem jeito, e surpreso pela honestidade da menina eu só a aconselhei:
- Não pense em nunca mais em tirar sua vida por alguém. Vá lá e boa aula- ela sorriu e com um aceno de mão desceu do ônibus.
Naquele dia no meio a tantos papéis do meu escritório eu não parava de pensar em Camila e como ela tinha me mostrado como sofrer por amor era algo ruim, depois do meu divorcio com Elena nunca mais me aproximei de outra mulher. Vendo que não ia conseguir me concentrar, fui buscar um café. Na volta para a minha sala esbarrei em Cidinha a secretaria do chefe fazendo todo o meu café derramar em minha camisa.
-Oh me desculpe Roberto, olha a sua camisa que coisa... - ela estava toda sem jeito.
-Não se preocupe Cida, eu lavo rapidinho no banheiro. -disse indo em direção ao banheiro e piscando para ela, vendo-a ruborizar.
No banheiro desabotoei as mangas da camisa e pela primeira vem em quatro anos, vi as pequenas cicatrizes que trazia em meus pulsos, fruto de uma bobagem de um apaixonado por sua esposa em ultimo recurso do desespero, vi que por uma mulher que não me amou e respeitou tentei dar a minha vida, mas graças a minha mãe e Deus ainda me encontrava vivo, apenas com as mercas da estupidez antes cometida, me lembrei de Camila, e como a aconselhei, se alguém tivesse me dito aquilo não teria feito tamanha bobagem, e sem ao menos lavar a camisa sai do banheiro e com o pouco de coragem que tinha fiz algo por impulso:
-Cidinha, não quero parecer abusado, mas gostaria de um chope após o trabalho?- ela me olhou e sorrindo respondeu:
- Achei que nunca iria convidar Roberto.

                                     

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