sexta-feira, 11 de março de 2016

O último maço

Acendi o último cigarro, de um maço que prometi que não iria fumar. Naquela fumaça deixava ir tudo que nos últimos dias andava me atormentando, quanto mais eu tragava, maior era a sensação de que tudo podia passar, mas quando o calor foi se aproximando dos meus dedos, percebi que a realidade ainda estava lá fora, e começava a voltar, percebi que a minha liberdade se resumia em 10 centímetros de nicotina. Minha liberdade me aprisionava num vicio constante.
Na fumaça que eu assoprava aos poucos, tentando me prender aos poucos segundos restantes de sossego e calma, eu desejava fazer tudo ir, tudo aquilo que estava tão difícil de me livrar. Desejava tanto queimar meus problemas e deixar as cinzas cair, como a solução.
Terminou, respirei fundo, e tão distraidamente como acendi aquele miserável que me trazia uma enorme sensação de paz, joguei fora o resto intragável dele. Fiquei olhando o resquício de fumaça que ainda pairava em volta de mim, como as evidências de um crime mal planejado.
Joguei o maço vazio no lixo, como quem abandona um pedaço da alma, guardei o isqueiro, ainda quente para me mostrar que aquilo iria me condenar o resto do dia. Suspirei, pensando em quantos suspiros eu andava tendo nos últimos dias, e com isso acabei suspirando novamente. Virei as costas para a cena do crime, calmamente saí andando e revirando o isqueiro no bolso, me prometendo que esse seria o último, dessa vez de verdade.

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